Obcecado,compulsivo, fanático, teimoso e incessante. A lista de adjetivos de conotação negativa pode causar mal estar até aos ouvidos menos exigentes. Mas porque começaríamos falar de uma lenda do Hip Hop Underground com palavras que para muitos podem ser até ofensivas?
Pelo simples fato que talento, foco, determinação e paixão não seriam o bastante para DJ Babu ter alcançado seus feitos e mudados a cultura para sempre.
Mais que o amor pelo rap, essa obstinação pela evolução e excelência fizeram que Christopher Oroc se transformasse no DJ Babu.
Desde sua adolescência no sul da Califórnia, essa personalidade obstinada já florescia no jovem Chris. Sua primeira paixão foi o skate, além de treinar incansavelmente as manobras, Babu fazia pesquisa intensas sobre os melhores atletas, marcas e campeonatos. Depois veio a BMX, esporte que mergulhou de cabeça mais uma vez.
Já deve estar se imaginando como foi sua relação com os toca-discos, amor a primeira vista.
Oxnard, 1984
Filho de militares da marinha, Babu migrou para Califórnia no começo dos anos 80, época de ouro no extremo oeste americano. Los Angeles estava sediando as Olimpíadas e o Hip Hop começava a florescer na periferias das grandes cidades com filmes como Wild Style e Beat Street e também programas de rádios voltados ao novo estilo.
Babu começou a tocar apenas aos 17 anos, em 1990, mas desde 1984 ele era vidrado em Hip Hop, brincava ocasionalmente nos equipamentos dos amigos e até chegou a estragar um 3×1 de seus pais fazendo scratch e usando o volume como fader.
Depois de trabalhar um bom tempo como frentista, Babu conseguiu comprar seu primeiro par de toca-discos, o que devemos realçar que não poderia ser realmente chamado de par, porque ele teve que começar com dois modelos diferentes, nenhuma era uma mk2, e uma deles estava com o pitch totalmente quebrado.
Por um ano, esse foi o equipamento de Babu, até ele conseguir comprar seu primeiro par de MK2. Logo o DJ formou uma crew com a galera do bairro, e se apresentavam em festas de adolescentes, escolas e encontros na rua.
Mesmo em ação quase todos finais de semana, Babu queria mesmo é fazer scratch, e ele não conhecia nenhum DJ da área que era especializado nesse aspecto da discotecagem.
Logo Babu começou a batalhar com outros DJs, eventos locais acabaram virando estaduais, e logo ele estava batalhando com os melhores DJs dos Estados Unidos. Mais uma vez, a personalidade obstinada e Babu entrou em ação, o fazendo treinar por dias seguidos para aprender um scratch novo ou inventar uma nova batida para derrotar seus adversários.
O trabalho duro teve resultados, após competir um torneio de uma universidade ainda como um nome desconhecido, Babu chamou a atenção de um grupo de juízes, o Beatjunkies, umas das crews mais respeitadas de DJs até hoje.
O descendente de filipinos alguns anos depois foi convidado para se juntar ao grupo, o qual é membro de honra até hoje.
Títulos nos Toca Discos
Babu conquistou vários títulos em competições, incluindo o Campeonato Mundial da Vestax e vários títulos do ITF. Inúmeros de seus vídeos viralizaram de forma orgânica antes da internet, cópias de suas vhs eram disputadas por DJs no mundo todo. Babu é famoso por redefinir a arte do Beat juggling durante a competição de categoria ITF/Beat juggling em 1997, quando ele realizou pela primeira vez sua rotina famosa “Blind Alley”.
Babu também é responsável por lançar um dos discos de batalhas mais populares da história, o Super Duck Breaks, que vendeu mais de 10 mil cópias.
O termo “turntablist”, ou quando nos referimos a pratica, “turntablism”, foi de forma não intencional criado pelo DJ Babu, que percebeu a diferença de um DJ que toca em festas, e outro que dedica toda sua vida a aprimorar sua técnica.
Dilated Peoples e produções
O legado de Babu vai muito além de duas conquistas e revolução na arte dos toca-discos. Babu é o DJ de uma das maiores bandas de Underground da História, o Dilated Peoples, que teve sua ascensão no boom do rap alternativo californiano, junto com os artistas das Stones Thrown e também de outras bandas como Jurassic 5.
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O Dilated Peoples vendeu milhares de discos de forma alternativa mas também teve um contrato com a Capitol Records. Até hoje uma das mais bandas alternativas mais amadas do planeta, o Dilated Peoples fez turnê com o Rage Against The Machine, gravou com Kanye West e viajou o mundo todo mostrando sua arte.
Fazer parte de uma banda, fez surgir uma nova obsessão na vida de Babu, a produção de beats. Babu fez várias tracks para o Dilated Peoples, mas também tem um vasto trabalho solo com grandes nomes do rap alternativo, principalmente na sua coleção “Duck Season”.
Planet Asia, Beatnuts, Defari, De la Soul, Linkin Park, Jurassic 5, Quasimoto, M.O.P., Progidy, The Alchemist, Gang Starr e Sean Price são apenas alguns dos artistas que já rimaram nos beats de Babu.
The Beatjunkies Intuitute of Sound
O jovem Babu era o tipo de adolescente que mudava de hobby todos os anos, e entrava com tudo em cada um deles. No rap parece que não foi muito diferente, não, antes que vocês perguntem, DJ Babu não está fazendo umas rimas; mas sim fundou a melhor escola de performance de DJ no mundo.
Juntamente com os Beatjunkies, Babu da aulas e administra um centro de formação de DJs em São Francisco, na Califórnia.
O The Beatjunkies Intuitute of Sound conta com os maiores nomes das artes dos toca discos no seu corpo docente e equipamentos de última geração. A prática de lecionar foi um desafio bem maior do que imaginado para Babu. Anos longe das performances, focado em suas produções, o artista teve que voltar para o básico para conseguir passar toda sua técnica como professor. Muitas vezes auto ditada, ele teve que aprender alguns caminhos tradicionais de criar um scratch ou uma batida nova.
Mais uma vez, o desafio foi vencido com excelência, hoje, mais do que nuca, o maior prazer de Babu é ver a evolução dos seus alunos e estado atual avançadíssimo do scratch ou outras técnicas de turntablism. Como o próprio artista disse em uma entrevista recente, o objetivo do Beatjunkies Intuitute of Sound não primeiramente formar DJs profissionais, mas sim espalhar e manter a arte dos toca discos viva para que possa sempre evoluir.
Fotos: beatproduction.net, Wikipedia, A3C Festival