O brilhantismo de uma mente pode florescer até no terreno mais árido, mesmo aquele que recebeu apenas algumas gota de água em toda sua vida.
Ao ouvir a história de Carolina Maria de Jesus, logo indagamos como uma catadora de papel conseguiu escrever um dos livros mais importantes da nossa literatura, traduzido em diversos países. Mas ao chegar em sua obra, vemos como as palavras da mineira seriam impossíveis de serem guardadas para todo sempre.
Ao ouvir a história de Carolina Maria de Jesus, logo indagamos como uma catadora de papel conseguiu escrever um dos livros mais importantes da nossa literatura, traduzido em diversos países. Mas ao chegar em sua obra, vemos como as palavras da mineira seriam impossíveis de serem guardadas para todo sempre.
Além do clássico "Quarto de despejo: diário de uma favelada", Carolina Maria de Jesus escreveu contos, peças de teatro e letras de músicas, além de cantar e ser uma artista têxtil. Seu Best Seller vale como um Nobel para quem teve apenas dois anos de estudo formal e foi criada na margem mais longe da sociedade.
Libertação pela escrita
Nascida na pequena Sacramento, em Minas Gerais, a neta de escravos passou seus primeiros anos na roça vivendo a rotina escassa de uma família pobre rural. Depois de duas décadas, partiu para São Paulo, assim como outros tantos brasileiros, buscava um futuro melhor na cidade mais próspera do Brasil nos anos 40.
O roteiro da vida da pioneira da literatura negra no Brasil está longe de ser incomum nas classes mais baixas da sociedade. Após dez anos trabalhando como empregada doméstica na capital paulista, a futura escritora acabou ficando grávida, e teve que se mudar para a agora extinta Favela do Canidé.
O roteiro da vida da pioneira da literatura negra no Brasil está longe de ser incomum nas classes mais baixas da sociedade. Após dez anos trabalhando como empregada doméstica na capital paulista, a futura escritora acabou ficando grávida, e teve que se mudar para a agora extinta Favela do Canidé.
Lá, mais de 80 anos atrás, sua ocupação era catar papel para poder sustentar sua família, trabalho que ainda é executado hoje em dia por diversos moradores de comunidades carentes. No meio do lixo, achou suas ferramentas de libertação; canetas e cadernos usados.
Quarto de despejo: diário de uma favelada
Carolina Maria passou anos retratando seu cotidiano com palavras em suas horas vagas do trabalho. Após colecionar tantos textos, buscou diversas editoras para ter sua obra publicada.
Os nãos pareciam intermináveis, as editoras sequer liam os rascunhos, achavam que uma favelada jamais poderia escrever um clássico da nossa história da arte.
Persistente, Carolina Maria finalmente encontrou sorte na vida depois de mais de 4 décadas de sofrimento, como ela mesmo disse em uma entrevista: “23 anos de miséria na roça e 22 anos de miséria na cidade”.
Os nãos pareciam intermináveis, as editoras sequer liam os rascunhos, achavam que uma favelada jamais poderia escrever um clássico da nossa história da arte.
Persistente, Carolina Maria finalmente encontrou sorte na vida depois de mais de 4 décadas de sofrimento, como ela mesmo disse em uma entrevista: “23 anos de miséria na roça e 22 anos de miséria na cidade”.
Em 1950, a escritora teve uma carta em homenagem ao Getúlio Vargas publicada no jornal O Defensor. Mas foi apenas em 1958, que o jornalista Audálio Dantas conheceu a autora e seus incríveis diários retratando a vida na favela.
Audálio ajudou a escritora a publicar seu primeiro livro — Quarto de despejo: diário de uma favelada. Em 1960, dois anos após a descoberta, o livro foi publicado e virou rapidamente um sucesso de vendas. Carolina Maria de Jesus recebeu homenagens da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo, além de receber um título honorífico da Orden Caballero del Tornillo, na Argentina, em 1961.
Audálio ajudou a escritora a publicar seu primeiro livro — Quarto de despejo: diário de uma favelada. Em 1960, dois anos após a descoberta, o livro foi publicado e virou rapidamente um sucesso de vendas. Carolina Maria de Jesus recebeu homenagens da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo, além de receber um título honorífico da Orden Caballero del Tornillo, na Argentina, em 1961.
Esquecimento
A publicação do livro permitiu que a autora saísse da favela. Carolina Maria continuou a escrever, gravou um disco, mas seus próximos livros acabaram não alcançando o mesmo sucesso do antecessor.
A autora começou a sumir da mídia e das estantes, caindo quase em esquecimento. Mas a editora Ediouro reeditou seu primeiro romance um ano antes de seu falecimento, em 1977. Seu livro póstumo, Diário de Bitita, foi lançado no Brasil em 1986, quase dez anos após seu falecimento, uma cópia deste livro já poderia ser encontrado em Paris, sob o nome Journal de Bitita.
A autora começou a sumir da mídia e das estantes, caindo quase em esquecimento. Mas a editora Ediouro reeditou seu primeiro romance um ano antes de seu falecimento, em 1977. Seu livro póstumo, Diário de Bitita, foi lançado no Brasil em 1986, quase dez anos após seu falecimento, uma cópia deste livro já poderia ser encontrado em Paris, sob o nome Journal de Bitita.
No centenário da autora, diversas ações foram feitas para ressuscitar suas obras; além de homenagens como a estátua recém inaugurada em São Paulo.
Carolina Maria de Jesus foi o Racionais Mcs dos anos 40, sua obra é indispensável para entender a vida na favela no século passado, a mesma nos ensina que pouquíssimo mudou em relação aos dias de hoje.
Jornalista: Fabiano Augusto Correa
FOTOS: Carta Capital, Instituto Moreira Salles, Estadão, Verso Inverso
Carolina Maria de Jesus foi o Racionais Mcs dos anos 40, sua obra é indispensável para entender a vida na favela no século passado, a mesma nos ensina que pouquíssimo mudou em relação aos dias de hoje.
Jornalista: Fabiano Augusto Correa
FOTOS: Carta Capital, Instituto Moreira Salles, Estadão, Verso Inverso