Wes Ventura é daquelas figuras que jamais vão passar despercebidos. Um cara grande, cheio de beleza, com um cabelo grande, cheio de poder e uma voz maior ainda que toca no fundo de sua alma. Sua presença esmaga padrões e prova que nem sempre os menores frascos que carregam os melhores perfumes. Esse jornalista que vos escreve, lembra perfeitamente quando teve a graça de ver pela primeira vez sua arte em uma das casas mais famosas de Curitiba.
Mesmo longe do palco, aquela voz cheia de swing me atraiu com a mesma força que um canto de sereia encanta um punhado de marinheiros. Ao chegar no front, esse encanto aumentou com tanta originalidade, técnica e presença de palco. Mesmo na sua jovialidade, eu vi que ali existia uma alma antiga, que já viajou pelos cantos mais remotos da música preta. Wes Ventura é um artista único e necessário.
Ao mergulharmos nas notas entrelaçadas de sua música, somos conduzidos por um universo sonoro onde as raízes afro-brasileiras dançam ao ritmo da caipirice contemporânea. Wes Ventura, artista singular, nos brinda com uma jornada onde a alma se encontra entre a poeira das estradas de Barretos e os ares cosmopolitas de Curitiba.
A expressão “afro caipira contemporâneo”, cunhada por Ventura, não é apenas um rótulo, é a essência de sua identidade musical. É a fusão entre suas raízes negras e caipiras, entre os acordes do violão canhoto e uma percussão única, que se entrelaçam para criar um estilo inconfundível. Uma ode à diversidade cultural que é tão própria do Brasil.
Desde os primeiros acordes até os versos entoados, somos envolvidos por uma tapeçaria sonora que reflete as influências variadas que moldaram a trajetória de Ventura. Da infância em Barretos, onde a música negra ecoava pelos seus ouvidos, até os dias em Curitiba, onde novos horizontes se abriram, suas composições são um testemunho vivo das experiências vividas e das influências absorvidas ao longo do caminho.
“Na Madrugada sem Pressa”, título de seu álbum inaugural, é mais do que um mero nome. É uma janela para a vida do artista, que troca o dia pela noite em busca da lapidação de sua arte. É um convite para que o público mergulhe não apenas na festa, mas na essência da música, onde cada nota carrega consigo uma história de dedicação e paixão.
Ventura não se contenta em ser apenas um músico, ele é um ativista sonoro, um arauto das questões étnico-raciais, sociais e do amor. Sua música é uma ferramenta de empoderamento para aqueles que sofrem sob o peso do racismo estrutural, uma voz que denuncia as injustiças do mundo, mesmo que às vezes deseje falar apenas de amor.
Navegar pelo cenário musical de Curitiba como um músico negro não foi fácil para Ventura. Enfrentou desafios e preconceitos, mas persistiu, erguendo-se acima das adversidades, firmando-se como um expoente da música preta brasileira. Sua presença nos palcos renomados como o SBPC Cultural e o Curitiba Jazz Festival não apenas consolida sua posição, mas também abre portas para uma maior diversidade e inclusão no cenário musical.
Suas experiências nas ruas, tocando para aqueles que muitas vezes são ignorados pela sociedade, moldaram não apenas sua visão sobre a música, mas também sua compreensão sobre justiça e empatia. Ele se tornou um herói, não por martírio, mas por meio de sua arte, que salvou e continua a salvar vidas.
Com uma trajetória que se estende desde os treze anos até os palcos dos grandes festivais, Ventura continua a evoluir, a criar e a inspirar. Seus planos futuros incluem novos projetos musicais, colaborações com artistas renomados e o lançamento de seu disco. Sua jornada é um testemunho da resiliência e da determinação de um artista que, através da música, busca não apenas entreter, mas também transformar o mundo ao seu redor.
Jornalista Fabiano Augusto Correa – Equipe de Comunicação Soul Black