Nesta semana o mundo celebra o Martin Luther King Day, um dos poucos feriados nacionais dos Estados Unidos. O guerreiro pelos direitos civis dos norte-americanos hoje é celebrado pelo estado, mas foi perseguido pelo mesmo com políticas racistas e tramoias de diversas agências de inteligência, principalmente o FBI (Federal Bureau of Investigation), que enxergava seu ativismo como uma ameaça à ordem estabelecida.
J. Edgar Hoover
Não podemos falar dessa perseguição, sem fazer um contexto histórico da época. Durante as décadas de 50 e 60, o FBI foi comandado por J. Edgar Hoover, um agente extremamente racista que conduziu uma campanha sistemática de vigilância contra líderes do movimento pelos direitos civis.
Para maquiar seu racismo, o FBI usou a Guerra Fria, que estava na lista de preocupações de todos americanos com o poderio econômico e militar da União Soviética na época. Hoover acreditava que o movimento poderia estar infiltrado por comunistas, uma ideia amplamente difundida no contexto da época. King foi identificado como um “alvo prioritário” dessa vigilância devido à sua crescente influência e capacidade de mobilização de massas.
Depois da implementação do Freedom of Information Act (FOIA), em 1967, uma lei que garante ao público acesso a arquivos do governo norte-americano, muitos fatos da perseguição do FBI a MLK vieram à tona.
As Táticas do FBI
Os métodos usados pelo FBI para monitorar King incluíram:
Gravações Clandestinas: O FBI obteve autorização para instalar escutas em quartos de hotel e no telefone de King. Essas gravações buscavam expor aspectos de sua vida pessoal que pudessem ser usados para desacreditá-lo publicamente.
Cartas Intimidadoras: Em 1964, King recebeu uma carta anônima enviada pelo FBI, que continha ameaças veladas e o encorajava a cometer suicídio. A mensagem era acompanhada de gravações editadas de suas conversas particulares. Estudos, como o publicado por Beverly Gage na revista The New York Times Magazine (2014), confirmam a origem da carta como sendo o FBI.
Propaganda Negativa: O bureau disseminou informações difamatórias sobre King entre políticos, jornalistas e até mesmo membros do movimento pelos direitos civis, com o intuito de isolar o líder.
Monitoramento de Aliados: O FBI também monitorava pessoas próximas a King, incluindo advogados e outros ativistas, como uma estratégia para mapear sua rede de contatos e atividades.
Sem medo
Apesar dessas tentativas de intimidação, King continuou liderando marchas e ações que culminaram em mudanças significativas, como a aprovação do Civil Rights Act de 1964 e o Voting Rights Act de 1965. No entanto, o impacto psicológico da vigilância foi profundo. Amigos próximos relataram que King sentia constantemente a pressão de estar sendo observado, o que afetava sua saúde mental e emocional.
Os esforços do FBI contra King só vieram à tona décadas depois, com a liberação de documentos sigilosos. Essas revelações geraram debates sobre o papel da vigilância estatal e os limites da autoridade governamental. Hoje, o caso é frequentemente citado como um exemplo de abuso de poder por parte de agências de inteligência.
O historiador David Garrow, autor da biografia Bearing the Cross: Martin Luther King, Jr., and the Southern Christian Leadership Conference (1986), argumenta que o caso de King expõe “os perigos do poder estatal descontrolado, especialmente quando usado para silenciar líderes que defendem a justiça social”.
A perseguição a Martin Luther King Jr. pelo FBI não foi apenas um ataque a um indivíduo, mas uma tentativa de minar um movimento que buscava igualdade e dignidade para milhões de americanos. Essa história serve como um lembrete sombrio da necessidade de vigilância pública sobre o uso do poder policial estatal, especialmente em tempos de polarização e conflito.
A perseguição do FBI a Martin Luther King Jr. persistiu até os últimos dias de sua vida, mas não foi suficiente para silenciá-lo. Mas em 4 de abril de 1968, King foi assassinado em Memphis, Tennessee, enquanto apoiava uma greve de trabalhadores de saneamento.
James Earl Ray, um fugitivo da prisão com histórico criminal, foi o responsável pelo crime. Ray atirou em King enquanto ele estava na varanda do Lorraine Motel em Memphis, Tennessee. Ele foi capturado dois meses depois em Londres e extraditado para os Estados Unidos, onde confessou o crime em troca de uma sentença de 99 anos de prisão, evitando a pena de morte.
Os motivos de Ray nunca foram completamente esclarecidos. Ele alegou inicialmente que agiu sozinho, mas mais tarde recuou de sua confissão, afirmando que foi coagido e que havia uma conspiração maior. Algumas teorias sugerem que Ray teria sido motivado por racismo e pela oposição às causas defendidas por King. Outras levantam a hipótese de que ele pode ter sido um peão em uma conspiração mais ampla envolvendo grupos racistas ou até elementos do governo, embora tais teorias nunca tenham sido comprovadas.